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domingo, 17 de abril de 2011

Senso Comum

     "O que é senso comum?
     Esta expressão foi inventada pelas pessoas de senso comum. Creio que elas nunca se preocuparam em se definir.Um negro, em sua pátria de origem, não se definiria como pessoa "de cor", evidentemente. Esta expressão foi criada para os negros pelos brancos. Da mesma forma a expresão "senso comum" foi criada por pessoas que se julgam acima do senso comum, como uma forma de se diferenciarem das pessoas que, segundo seu critério, são intelectualmente inferiores. Quando o cientista se refere ao senso comum, ele está, obviamente, pensando nas pessoas que não passaram por treinamento científico. Vamos pensar sobre uma destas pessoas.
     Ela é uma dona-de-casa. Pega o dinheiro e vai à feira. Não se formou em coisa nenhuma. Quando tem de preencher formulários, diante da informação "profissão" ,ela coloca "prendas domésticas ou "do lar". Uma pessoa comum como milhares de outras. Vamos pensar como ela funciona, lá na feira, de barraca em barraca. Seu senso comum trabalha com problemas econômicos: como adequar recursos de que dispõe, em dinheiro, às necessidades de sua família, em comida. E para isto ela tem de processar uma série de informações. Os alimentos oferecidos são classificados em indispensáveis, desejáveis e supérfluos. Os preços são comparados. estação dos prodtos é verificada: produto fora de estação são mais caros. Seu senso econômico, por sua vez, está acoplado a outras ciências. Ciências humanas, por exemplo. Ela sabe que alimentos não  são apenas alimentos. Sem nunca haver lido Veblen ou Lévi-Strauss, ela sabe do valor simbólico dos alimentos. Uma refeição é uma dádiva da dona-de-casa, um presente. Com a refeição ela diz algo. Oferecer chouriço para um marido de religião adventista, ou feijoada para uma sogra que tem úlceras, é romper claramente com uma política de coexistência pacífica. A escolha de alimentos, assim, não é regulada apenas por fatores econômicos, mas por fatores simbólicos, sociais e políticos. Além disso, a economia e a política devem fazer lugar para o estético: o gostoso, o cheiroso, o bonito. E para o dietético. Assim, ela junta  o bom para comprar, com o bom para dar, com o bom para ver, cheirar e comer, com o bom viver. É senso comum? É. A dona-de-casa não trabalha com aqueles instrumentos que a ciência definiu como científicos. É comportamento ingênuo, simplista, pouco inteligente? De forma alguma. Sem o saber, ela se comporta como uma pianista, em oposição ao especialista em trinados. É provável que uma mulher formada em dietética, e em decorrência de sua (de) formação, em breve se veja frente a problemas na casa, em virtude de sua ignorância do caráter simbólico e político da comida."

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